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quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Recife que Andava de Bondes

Recife, capital do estado de Pernambuco, foi visitada em 11 de dezembro de 1928 pelo escritor brasileiro Mário de Andrade (1893-1945), quando viajava como cronista do Diário Nacional,
obrigando-se a enviar diariamente textos para a coluna "O Turista Aprendiz".
O bonde é o centro dessa composição fotográfica de linhas e sombras que o escritor modernista captou com "Codaque", como ele designava a sua câmera Kodak.
A imagem foi publicada em "Mário de Andrade, Fotógrafo e Turista Aprendiz", editado em 1993 pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), em comemoração ao centenário de nascimento do escritor.

A imagem acima (da coleção do pesquisador Allen Morrison, de New York), é de um cartão postal do início do século XX, que circulava ainda em 1954, com a estação dos bondes junto ao Arco de Santo Antônio.
Destaca o especialista estadunidense Allen Morrison que Recife foi a segunda cidade brasileira (depois do Rio de Janeiro) a operar bondes a vapor, podendo ter sido a primeira no mundo a operar locomotivas a vapor construídas especialmente para rodar nas ruas. As duas primeiras dessas locomotivas foram construídas em 1866 pela Manning Wardle & Co. (de Leeds, Inglaterra) para a empresa inglesa Brazilian Street Railway, que no Brasil foi conhecida como Estrada de Ferro de Caxangá.
A primeira linha de bondes a vapor, entre o porto e o bairro Apipucos, foi inaugurada em 5/1/1867, com bitola de 1.219 mm (4 pés), sendo nesse ano estendida ao bairro Dois Irmãos e em 24/6/1870 a Caxangá. Um ramal para Arraial (Casa Amarela) começou a funcionar em 24/12/1871.
Outra linha, com bitola de 1,4 metro, foi instalada com capitais brasileiros da Trilhos Urbanos do Recife a Olinda e Beberibe, sendo inaugurada em Olinda a 20/6/1870, com o acréscimo no mês seguinte da rota para o rio Beberibe, usando também locomotivas inglesas da Manning Wardle e carros de passageiros fabricados por John Stephenson em New York. Uma rota mais direta para Caxangá foi construída em 1885 e os trilhos passando por Dois Irmãos foram
removidos. Os bondes a vapor rodaram no Recife até a Primeira Guerra Mundial.
A Pernambuco Street Railway, depois Ferro-Carril de Pernambuco, abriu uma linha com tração animal para Madalena em 22/9/1871. Os primeiros veículos eram fechados como os ônibus locais e assim eram chamados de ônibus pelo público. Quando a empresa instalou luzes elétricas, os passageiros rebatizaram os bondes como electroburros.
Usava-se então a mão de direção inglesa, pela esquerda da rua, como se pode notar na foto abaixo, e animais extras eram colocados ao longo do caminho para reposição dos que se cansassem:

Apesar de seu espírito pioneiro, Recife foi a última das grandes capitais brasileiras a instalar bondes elétricos, depois de 21 outras cidades no Brasil. Isso ocorreu em 1912, com a Pernambuco Tramways & Power Company,criada em Londres em 24/1/1913, que iniciou os testes em 11/1913 e inaugurou a primeira linha elétrica (da área insular do Recife até Boa Vista, através da península de Santo Antônio) em 13/5/1914.
A linha de bondes a vapor para Olinda foi eletrificada em 12/10/1914 e a tração elétrica chegou a Várzea no ano seguinte. Os bondes a vapor para Dois Irmãos e Arraial foram substituídos por linhas elétricas em 1917 e o último deles rodou no Recife, até o Beberibe, em 1922.
Bonde elétrico no Recife, em foto cedida pelo pesquisador estadunidense Allen Morrison

Muitos dos bondes abertos foram reconstruídos como modelos fechados de luxo para uma nova linha até a praia de Boa Viagem, inaugurada em 25/10/1924. Uma rota havia sido também planejada para Jaboatão, 8 km a Oeste de Tegipió, mas nunca foi construída. Na década de 1920, a Pernambuco Tramways operava 130 veículos motorizados e 110 reboques em 141 km de linhas, o terceiro maior sistema urbano de bondes no Brasil.
A partir de 1930, começaram a circular no Recife veículos fechados que o público apelidou de zépelins. Mas, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, o sistema de bondes declinou rapidamente. A linha da área insular do Recife até Santo Antônio foi eliminada em 1951, e o último bonde na cidade rodou de Boa Vista a Madalena - onde o primeiro veículo tracionado por cavalos tinha circulado 80 anos antes - em março de 1954.
Políticos locais acusaram a Pernambuco Tramways de quebra de contato e forçaram o reinício do serviço, com um veículo aberto simples rodando um dia apenas, de Boa Vista a Fundão, em 1960. O bonde 104 foi o último preservado em um parque na margem do rio, na Rua da Aurora, e transferido para o Museu do Homem do Nordeste em 1985.
Em 15/6/1960, a nova Companhia de Transportes Urbanos inaugurou o sistema de trólebus, que chegou a operar em nove rotas em 1980. Novas rotas de trólebus foram abertas em 1982. O serviço ferroviário suburbano, com locomotivas a diesel da Estação Central até Jabotão (20 km) e da Estação Cinco Pontas até Cabo (30 km) começou a ser eletrificado, operando como metrô interurbano a partir de 9/3/1985.
Em 5 de janeiro de 1867 foram inaugurados os trilhos urbanos do Recife a Dois Irmãos.
O trecho inic]ial partia da rua Formosa, começo da atual Conde da Boa Vista. A maxambomba era ma pequena locomotiva em que os maquinistas trabalhavam numa cabine sem coberta. A máquina puxava três vagões de dois andares.
Veja como foi a notícia no DIARIO:
“Começa hoje o serviço ordinário da via férrea do Recife ao Apipucos, limitado ao Caldeireiro, por ora; partindo o primeiro trem da rua Formosa às 3 horas da tarde. O preço é, como ontem dissemos, 200 réis por cada mil braças na lª. classe, única por ora enquanto durar o serviço provisório. Os pontos de parada do trem serão: rua da Soledade; depois da curva do anguinho; em frente da estrada dos Aflitos; entre as casas dos srs. drs. Augusto de Oliveira e Gusmão; em frente da casa do sr. Luís Gomes; entrada do sítio da Jaqueira; saída do Parnamirim; entrada da Casa Forte; e no Chacon. As horas da partida são: 5 e meia, 7 e um quarto, 8 e três quartos da manhã; 3 e meia, 5 e 6 e meia da tarde, do Recife para o Caldeireiro; 6 e meia, 8 e 9 e meia da manhã; 4 e um quarto, 5 e três quartos e 7 e meia da tarde, do
Caldeireiro para o Recife:
Numa matéria paga, na mesma edição, os empresários da ferrovia explicavam por que a inauguração do serviço se dava em caráter precário.
“Não sendo possível, pela considerável demora que houve na remessa dos últimos trilhos e outros objetos, pôr em andamento duas locomotivas, o serviço por agora será feito por uma somente, que conduzirá dois carros, partindo às horas e dos lugares indicados na tabela que vai anexa”.


Trem da E. F. de Caxangá, 1900 sobre o Rio Capibaribe
Estação Ponte d'Uchôa, Av. Rui Barbosa - E.F.C.'s linha Apipucos, construída
em 1865, existe até hoje
Cia Ferroviária, trilhos urbanos do Recife a Olinda e Beberibe, foto no bairro de Fundão


F.C.P. linha para Afogados e Jiquiá (Giquiá), no Jiquiá, onde foi o primeiro
campo de pouso em Recife, pousava o Graf Zeppelin, 1930
Bonde a Cavalos, com mão Inglesa, na Rua 1º de Março
Bonde na Praça da Independência - Santo Antônio, 1903

Bonde na Ponte da Boa Vista
Uma das 55 Locomotivas construídas em 1913 até 1921 para
Pernambuco Tramways & Power Company, inaugurando o sistema elétrico em 1914


Bonde elétrico inglês na Ponte Buqaque de Macedo, postal de 8 de setembro de 1916


Bondes na Av. Rio Branco
Bonde na Ponte Maurício de Nassau, o sistema elétrico aposentava 47 anos de tração animal

Bonde J. G. Brill (USA) encomenda de 30 carros da Pernambuco Tramways,
os recifenses apelidaram de "Caixa de Fósforo"

Bonde da Companhia de Força e Transporte de Pernambuco
Bondes para Olinda
Praça da Independências, Bondes para Casa Amarela e Derby



Estação Várzea e o Bonde

Em 1924 a P.T. converteu seus Bondes abertos para fechados para a linha Boa Viagem

Ao fim de 1930 a P.T. importou motores adicionais e controladores e carros
da Inglaterra para um novo modelo fechado. Os operadores o apelidaram de "Gigolô
Rua Nova, com 2 Bondes "Gigolôs"










































Construção da Av Boa Viagem e sua linha em 1923










































































































































































Acesso através de porta central foi um avanço tecnológico

































































































Sinais de crise, modelo a partir de um Zeppelin, só que em madeira e não alumínio






































































Linha Olinda
Bonde antigo, reformado para voltar a operar, trecho da Ponte Maurício de Nassau, 1943

O fim estava chegando, reformar e não comprar novos Bondes

Bonde Gigolô em 1943
Bonde de 1914 ainda funcionando na forma original em 1943

Os bondes, continuaram até 1960, onde a P.T. encerrou sua operação
Encontra-se no Museu do Homem do Nordeste em Casa Forte
Rua da Aurora, o que restou dos Bondes


















































































































































































































































































Do sistema, só restam os trilhos no centro do Recife
EM 1960, COM O FIM DOS BONDES, O TRÓLLEBUS SUBSTITUIU EM VÃO O EFICIENTE SISTEMA












































FIM DO EFICIENTE SISTEMA DE BONDES, OS ÔNIBUS DOMINAM A CIDADE